terça-feira, 14 de maio de 2019

"O velho e o mar"

                                      “O velho e o mar”

            Gostava sobremodo do romance curto que Hemingway escreveu.  Tinha razão; compôs uma das peças que fizeram o escritor ganhar o Nobel de Literatura.
            Sobre este romance curto, correm muitas histórias.  Que foi um lançamento muitíssimo bem feito, antecedido de notícias jornalísticas várias, misteriosas e que aguçam a curiosidade: “sabe-se que Ernest está em Cuba, escrevendo com vigor um romance”; coisas do gênero, jornais e revistas, prepararam para o lançamento do livro que acabou uma das maiores peças da literatura mundial
            Ninguém jamais revelou nada.  Nem autor, nem editores.
            O homem escrevia também, apaixonadamente, mas qual!  Como Hemingway? Difícil, muito difícil.  Hábitos estranhos não lhe faltavam.  No momento, estava num restaurante praiano, envidraçado, o que impedia entrar vento frio e levantar as folhas do livro, melhor, caderno que viria a se tornar livro, caso saísse boa a história, o relato.
            Quem escreve não deve beber, ou melhor, abusar da bebida, principalmente ser for destilado.  Era o primeiro dos três copos iniciais de uísque de primeira qualidade; depois, muitos e muitos copos d’água dissolveriam a concentração alcoólica e abrandariam um mal estar, ou mesmo bebedeira.
            Tempos outros, atuais, onde o celular que fala com Marte repousava no centro da mesa.  Não, a escrita não era por computador, menos ainda pelo telefone mágico que hoje é parte integrante da tralha que o homem carrega, mas o importante não foi isso.  Uma mensagem de texto havia chegado.  “Volte ao hotel imediatamente, está sendo esperado por gente que vai se identificar”.
            Mistério absoluto para quem não estava bêbado.  Mais ainda quando em outra mensagem chegou: “seja discreto. Pague o que deve e vá para a casa.”  
            Assim foi feito.  Pouco depois, banho tomado, uísque no copo e já iniciando a fome, o celular dá outra chamada. Falam.  “Aguarde aí mesmo vão aparecer homens que se identificarão. Pode confiar, policiais estarão presentes, com eles.  Mas só dois farão contato.”  E a mensagem encerrava.
            Soa a campainha. Pelo visor da porta, cinco homens.  Dois de terno, elegantes. Dois de camisa preta e calça jeans. Ostensivamente armados. O último parece um dirigente, pelo que diz aos que o acompanham.
            Era um dirigente. O emissário especial da Caixa Econômica tinha por difícil missão não deixar de escapulir a quantia das garras do governo.  Prêmio muito alto, os juros seriam de colocar qualquer um com vida de ir e vir para onde quer que fosse.  Passaporte contínuo.  Nada de chatíssimas renovações.  Dinheiro muito alto, nos dois primeiros dias úteis do mês, depositado na conta em que o homem designasse.  Negócio escuso?  Não, não.  Ele possuía o bilhete premiado da famosa mega-sena.  Hemingway seria esquecido?  Não. É provável que não. Tantos prazeres e paixões o dinheiro não paga.  Este era um deles.. 

           

10 comentários:

Anônimo disse...

Como esquecer desse, grande escritor!
O Velho e o Mar, lido e relido, por mim, porém, outro
que não esqueço, Por Quem os sinos dobram.
Excelente sua matéria postada, hoje, Jorge,
sobre um escritor que, também, foi marcante em minha vida.
No entanto, apesar da fama e tudo o que viveu
acabou por dar, fim em sua própria vida.
Assim é a vida...
Obrigada pelo convite.
Abraços.
Nadir D'Onofrio

Ana Freire disse...

Puxa... assim de repente... pensei que fosse mais um político de alto cargo, que tivesse mandato de captura... e internacional... que é para condizer com alto estatuto... :-))
Bem... os nossos por cá... andam todos à solta... de recurso em recurso... o sistema judicial... deixa-os seguir, com a vidinha deles...
Belíssimo post, que nos vem orientar o foco... para esse grande talento que foi Hemingway... confesso que vi mais filmes, inspirados nas suas obras... do que livros, propriamente ditos... algo para tentar remediar em breve... nas férias de Verão... quando há um pouco mais de tempo, para aprofundar leituras... e por conta deste post... vou acrescentar este autor, na minha listinha de futuras leituras... com direito a asterisco ao lado... para não me passar despercebido... :-)
Um grande abraço... agradecendo o facto, deste excelente post, me ter sugerido, este génio literário... uma pena, que a esquizofrenia, ande tantas vezes a par da genialidade... ele que bem poderia ter andado por cá... mais uns bons anitos...
Tudo de bom!
Ana

Gil Façanha disse...

Sua escrita sempre parece ondas deslizando no mar. A leitura flui naturalmente e não tem como não se deixar levar. Abraço. Nunca li esse livro. Vai entrar para a lista.

Tais Luso de Carvalho disse...

Grande Ernest Hemingway, Por quem os Sinos Dobram, O velho e o Mar, Paris é uma Festa e tantos outros!
Ele tinha umas características muito peculiares, tinha por limite escrever 500 palavras por dia e escrevia em cima de uma cômoda em pé!
Hoje á tarde ainda falei nele com um amigo da nossa família.
Gostei muito do seu texto! Aquela sua 'grife' conhecida, né meu amigo?
Beijo, uma ótima semana pra você, Jorge!
*Ficou tempo sem escrever!

Elvira Carvalho disse...

O velho e o Mar, O adeus às armas, As verdes colinas de África, Por quem os sinos dobram, e As neves do Kilimanjaro, foram os únicos livros de Ernest Hemimgway que eu li e isso fez dele um dos meus escritores preferidos.
Gostei muito deste seu texto, que trás um excelente escritor para a atualidade, e que ao mesmo tempo nos conduz por um caminho misterioso até ao momento final.
Abraço

Carmen Velloso disse...

"Tantos prazeres e paixões o dinheiro não paga. Este era um deles.." Um final primoroso para a crônica, estilo que você domina. Não mais escrever? Impossível, especialmente para um seguidor de Hemingway.
Muito bom e firme, querido amigo. A foto que ilustra ficou excelente.
Beijo, Carmem.

Anderson Fabiano disse...

Confesso que quis ser Santiago, depois que li Hemingway. Mas sem os tubarões do retorno de alto mar e, se possível em Búzios... rsss Gosto de finais felizes.

meu carinho,

Anderson Fabiano

PS: Você não tem mais jeito, né, Jorge... continua genial, amigo!

São disse...

Um grande escritor de que li algumas obras inesquecíveis.


Bom final de semana

CÉU disse...

Olá, querido amigo!

Gosto muito da sua forma de escrever, Jorge, e esse interessante texto não é exceção.
Os grandes escritores têm suas manias, mas a mania do dinheiro lhes passa, completamente, ao lado. Afinal, tanta coisa muito melhor que o "papel", a vida tem para nos oferecer.

Li os livros mais emblemáticos de Hemingway e gostei bastante.

Novo post por lá. Desde já, obrigada!

Beijos e dias bem felizes.

Diná Fernandes disse...

Olá Jorge bom dia, li Por quem os sinos dobram, um romance de teor contundente que muito me impressionou.
Papel é bom, é mas não compra tudo nem traz felicidade.Ler-ttte é mittto prazeoso.

Tenha um ótimo dia!

Abração!