Panorama
            Construíra
a casa num terreno pouco íngreme, subida leve, terreno e gramado perfeito. Na
serra de Friburgo.
            Já
havia tomado o café da manhã fazia algum tempo. 
Clima ameno, talvez um pouco frio. 
A casa possuía uma varanda que alcançava da frente ao lado direito, até
o fundo.  As cadeiras, não muitas e as
duas mesas faziam o complemento da área deveras aprazível. 
            Dez
horas, já poderia tomar sem ressentimento interior seu uísque.  Era o que fazia, puro, copo de vidro grosso,
gostoso de pegar, e o líquido que continha descia bem, esquentava o corpo e a
alma.  Entendeu que estava tudo muito
bem; nada a reclamar.  Quem levanta com o
Sol tudo pode!
            Sabe,
ficar achando que nada está certo, nem mesmo a própria Vida, não ajuda nem
resolve coisíssima nenhuma.  Piorar,
piora. Ah, piora muito!  Estas atitudes
passivas diante do maior são terríveis, acovardam, trazem medo, angústia e
ansiedade.  Naturalmente que os fatos
corriqueiros, alguns muito comuns, parecem gigantes ameaçadores, como aquela
porta que ficou difícil de fechar.  Ora,
se a fechadura está boa, o encaixe da porta com o seu lugar de trancamento está
difícil, na maioria das vezes uma lixa termina com o problema.  Mas nem todos pensamos assim, a coisa se
torna complicada, David já não sabe mais combater Golias — como se fosse
isso.  É nada!
            O
panorama!  O homem estava se esquecendo
dele.  Pronome mal colocado?  Dane-se o pronome, interessam as árvores, o
azul diáfano do céu, a tranquilidade do lugar. 
É, isso ainda existe sim, parece sonho ou ilusão, mas a beleza não
morre, as cores não mudam, salvo quando trocam as estações, que nos diga a
música “The autmumn leaves”, no original francês "Les feuilles morts", de Joseph Kosma.
            Este
Jack Daniel’s não é grande coisa não. Ruim não é, mas tem coisa melhor, com um
bom café fumegante.  A varanda, a
confortável cadeira, a bela e comprida mesa, o ar que se respira, e a omelete
de presunto, seguida de um caprichado feijão com pouco toucinho e paio que
seriam servidos no almoço, arroz, naturalmente, e uma couve em tiras fritada,
provaram a aquele homem que a Vida ainda é bem suportável.
            Quase
esqueço.  O tal que gosta de um uísque e
está refugando um Jack, e acabou de tomar um café muito gostoso, está
escrevendo uma crônica da Vida, coisas que acontecem.
            Só.  Mais nada.

 
