sábado, 9 de março de 2013

Bolivarianismo



                                            

            Quando escreveu a Carta da Jamaica, em 1915, Simón Bolívar pretendia uma união entre países de língua espanhola, principalmente na América do Sul.
            A doutrina pode ser resumida em duas partes, que acabarão se unificando.  A primeira diz respeito à língua, religião e costumes, todos eles das nações hispânicas no continente.  Dada a semelhança muito grande entre elas, a ideia parece ser bastante lógica quando afirma ser ideal para aqueles povos a união de pensamento e, como consequência, a comunhão política.
            Em seguida, aparecem os principais objetivos: educação pública gratuita e obrigatória, repúdio a intromissão estrangeira na AL e a dominação econômica, para afinal ser construída uma só unidade política, nos moldes do que hoje é a União Europeia.
            Passada por exame cuidadoso, tanto do ponto de vista histórico como social, a doutrina mostra-se frágil, eivada de radicalismo e fora dos tempos atuais, quando não respeita a grande desigualdade dos povos, mesmo que de aparente igual origem.  As nações da AL não são formadas por espanhóis e portugueses, no caso do Brasil. Os conquistadores aqui chegaram quando já existiam muitas civilizações antigas e solidificadas, como incas e índios de grandes tribos que dominavam o continente.  Submetidas ao domínio estrangeiro colonialista, estas civilizações ou se perderam, como no caso da cultura inca, dizimada criminosamente pelos espanhóis, ou ficaram submissas, como os índios que até hoje habitam a AL.
            O Brasil nada tem em comum com a cultura dos países vizinhos, por exemplo.  Existe, claro, a semelhança entre os costumes humanos, mas esta é uma característica do homem habitante do planeta Terra, e não caracteriza uma unidade de costumes e pensamento com os outros latino-americanos.
            Do ponto de vista prático, o bolivarianismo é absurdamente ultrapassado.  Suas metas principais ficaram completamente destituídas de valor, com a passagem do tempo.  A educação deve ser sim gratuita e pública, mas exclusivamente a básica, fundamental, elementar, com professores altamente capacitados e muito bem pagos.  A formação universitária foge desta regra.  Convém lembrar o ensino profissionalizante, em larga escala, sério e bem ministrado.  Ele está ainda bastante modesto e não institucionalizado.
            Outro ponto que foge ao nosso tempo é a independência na economia, quando o mundo todo, no momento, resume-se a um só interesse: o ganho anual no desenvolvimento do PIB, que virou mania mundial, principalmente chinesa.  Bolívar jamais poderia supor mudanças que acontecem no mundo atual, onde mesmo o comunismo pode estar mesclado com capitalismo voraz e desumano, como o existente na China.
            Enquanto isto, homens da mais profunda mediocridade, Hugo Chávez e Evo Morales, antidemocratas por excelência, anunciam a doutrina como verdadeira panaceia para curar os problemas do continente Sul-Americano.  Até mesmo Lula, preocupado tão somente com a sua figura e projeção dada pela imprensa mundial a serviço do interesse econômico dos seus países, especialmente França e Inglaterra que ensaiam um novo colonialismo, o suspeito e ainda inocente ex-presidente fugiu do antigo pensamento a toda velocidade, inclusive por ser seu ideal político o ‘lulismo’.
            Talvez, não se pode afirmar nada, a doutrina de Bolívar fosse boa para o seu tempo.  Hoje não tem mais o menor cabimento.      

11 comentários:

Carmem Velloso disse...

Um esclarecimento importante, já publicado no Vote Brasil, onde o autor é colunista político.
Ninguém pode dizer que se trata de posição reacionária, pois Jorge é declaradamente socialista-democrata por formação, conforme já afirmou muitas vezes e pelo que se depreende dos seus textos políticos.
Abraço. Carmem

Unknown disse...

Reflexão pertinente, eivada de verdades. Abrs Mardilê

petuninha disse...

O Artigo de Jorge Sader é bastante lúcido e claro, diante de todas as mudanças político-sociais que desde Bolívar já surgiram na AL. e no mundo.

Os grandes países necessitam de grandes homens de Estado.

Abraço.

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Jorge Sader Filho

Somente um grande conhecedor de fatos históricos culturais,para escrever um artigo tão bem elaborado, dando seu recado com Luc.

"O Brasil nada tem em comum com a cultura dos países vizinhos"

Aqui você fala uma realidade,é uma mania dizer que temos muitas coisas em comum?

Valeu ler esse seu importante texto de hoje,abraços,
Efigenia

Célia disse...

Irrita-me ver que o povo, em geral, não quer saber, não quer aprender e apreender as verdades escancaradas deixando-se dominar por uma consciência involutiva seguindo no impulso da emoção de pão & circo & cestas básicas no jugo de uma falsa liberdade da miséria do ser, em submissão ao ter, ilusoriamente adquirido.
Uma aula, mestre Jorge!
[ ] Célia.

Caio Martins disse...

Está correto, Jorge... sem esquecer que foi financiado pelos ingleses, para quebrar o domínio hispânico no continente. Apareceram, na mesma época e com as mesmas características, "libertadores" na maioria dos países latino-americanos.
Ensaio proveitoso, e atualíssimo. Forte abraço.

Marco Bastos disse...

Bolivarianismo é coisa arcaica - cordão de caranguejos. É melhor qwe cada um, em cada qual, trate de trabalhar sério e de se desenvolver como deve. Basta que se respeite os bons líderes. Culto a personalidades e a mitificação de pessoas é coisa de povo atrasado. Boa crônica Jorge. abraços.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Verdade, Jorge. Em poucas linhas você conseguiu traçar um painel lúcido e de irrefutável pertinência sobre esse anacronismo histórico. Parabéns, amigo.

marcia disse...

Mestre Jorge, obrigada pela aula....bjus

Jota Effe Esse disse...

Pura verdade, Jorge, mas quem consegue convencer chavistas? A A. Latina precisa se unir na busca de melhor desenvolver a educação de seus povos. Meu abraço.

Anderson Fabiano disse...

BINGO!

Jorjão,

Sua clarividência transborda sobre a mediocridade que grassa na AL.

Os Evos, Chávez e Lulas não passam de empecilhos contemporâneos ao desenvolvimento dos povos. O velho Simon deve ter tido lá suas razões, mas, século XXI é século XXI e os focos mudaram.

Meu carinho, parceiro,

Anderson Fabiano