sábado, 21 de maio de 2011

Castagneto













                                               Castagneto

            Por motivos de manter uma discrição a respeito do assunto, conto a história, alguns pormenores, mas não os envolvidos.
            Gosto muito de pintura.  Durante longos anos pelejei com ela, até dedicar-me inteiramente à literatura.
Durante este tempo, é lógico que eu adquirisse um conhecimento de pintores famosos e alguns nem tanto.  Entalhava em madeira também, e participei de um salão oficial com uma talha em peroba do campo que acabou com minhas mãos algum tempo.
            Pouco depois, passei a frequentar leilões, não por esnobismo ou para adquirir peças raras.  Era distraído, com direito a bom vinho branco e canapés muito bem feitos.
            Antes de o leilão começar, as peças ficam expostas durante alguns dias.
            Foi quando peguei, sob luz intensa, num Castagneto muito brilhante, por excesso de verniz dos conservadores.  Estranhei de início as cores.  O estilo era igual ao do nosso marinhista famoso, que tinha o hábito de fazer a cor cinza, sempre presente nos céus do quadros a óleo, usando branco com cinza do seu charuto que não abandonava.
            Chamei um pintor, profissional que vendia bem, e pedi sua opinião. 
Disse que achava ser falso.  Um amigo que estava comigo encontrava-se no auge da indignação, conhecia o leiloeiro famoso e afirmou, com o pintor, que ele era incapaz de ter no salão obra falsa.
            O Castagneto foi vendido a muito bom preço.  Eu estava no leilão, onde Adalgisa Colombo, a ex-Miss Brasil chamava a atenção de todos, pela sua beleza e elegância, acompanhada do marido, conhecido investidor em obras de arte.
            Tempos depois, devolvido ao vendedor, com os certificados técnicos de falsidade.  Nestes casos, não há discussão.  O dinheiro é restituído no ato, acompanhado de algum brinde e solene pedido de desculpas.
            Até hoje acho graça da cara dos dois, dizendo que o excesso de vinho estava prejudicando minha visão.
            Isto deu uma idéia ótima!  Tenho, na minha sala, um Castagneto e um Pancetti.  Autênticos, claro, pois eu mesmo fiz ambos!  

20 comentários:

Márcia Sanchez Luz disse...

Jorge, imagino o que teria feito se não tivesse tomado vinho;-) O final da crônica é hilário, próprio de escritores de seu porte. Parabéns!

Beijos

Márcia

Mari Amorim disse...

Olá,Jorge!
Nada como o aprendizado!
Se puder passe lá, no Brincando Com a Rima,estamos em festa,seu pedaço de bolo,está reservado!
Um dia cheio de alegrias,para você!
Mari

Unknown disse...

OI Jorge, quem se interessa e estuda qualquer ramo de arte conhece estilo, que é o que diferencia um artista de outro. Abrs
Mardilê

lino disse...

Pois, depois dizem que é do vinho.
Abraço

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Gostei muito de ler seu "Castagneto"
Meus cumprimentos, e o final foi espetacular,
Efigênia

Miriam Panighel disse...

Ótimo, como era de se esperar, já que vem de você. A novidade foi o final. Inesperado e surpreendente. Um senso de humor contagiante,Jorge. Excelente mesmo. Parabéns!

Blogat disse...

Jorge, vc é muito atento e perspicaz.
Aja visto o jeito, adorável e irresistível de contar as histórias, fruto dessa observação aguda do mundo e das pessoas, naturalmente.
E olha que o vinho está lá para nos relaxar,mas, distraído... só o ambiente!
Beijo!

petuninha disse...

Querido Jorge!
Parabéns por mais esta excelente crônica!
Bela, simpática e descontraída forma de contar. Contém riqueza de ocorrências e informações, que não cansam o leitor, porquê bem condensadas.
Beijos.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Meu caro Cortásgneto,

O Catagneto e o Panceti que você tem em casa podem ser falsos, mas este texto é um Jorge Sader legítimo. Parabéns.

Aracéli Martins disse...

Jorge, a tua crônica me valeu uma boa risada. Por que não podemos fazer o mesmo? Às vezes compramos gato por lebre, sem pensar. Talvez pelo fato de esse gato ser mais amigo e bonitinho do que a dita lebre? E podemos até começar a criar gatos... E´só cuidar pra depois vender no mercado de lebres...

Aracéli Martins disse...

... corrigindo: É só cuidar pra depois não vender no mercado de lebres.

Fernanda disse...

Esta crônica de Jorge me sugere o seguinte: - este conteúdo descrito cabe num quadro impressionista, pelas cenas e pelos personagens. A exemplo do "Älmoço na Festa do Barco" de Renoir, 1881.
O nome do Quadro implícito na crônica poderia ser talvez "Leilão de Artes".
"È uma arte onde também existe a preocupação de retratar as pessoas na espontaneidade dos momentos, nas tarefas cotidianas do meio rural ou urbano, fugindo ao rigor do classicismo. Mostram-se o dia-a-dia das praias, dos bosques e parques, dos piqueniques, das festas, jantares e almoços nas margens dos rios, dos lagos, nos barcos, as comemorações informais, em cores leves com muita luz e descontração num indisfarçável gosto de feriado ou final de semana. As pessoas e coisas parecem ter sido flagradas por uma câmera fotográfica sem a rigidez da pose, na mais profunda intimidade de um gesto ou de um momento." Parabéns! Beijos da Fernanda.

Blogat disse...

Jorge, por favor, considere um "h" na frente do "aja" que escrevi...quase me tirou o sono...rs

"Herrar é umano". Beijo!!

Rita Lavoyer disse...

Creio ser o Jorge capaz de produzir a sua própria arte.
Além do mais, a verdade está no vinho.

Mari Amorim disse...

Olá,Jorge!
Agradeço sua presença,carinho,e interação,na homenagem,oferecida ao amigo,Elcio do Blog Verseiro.blogspot.com/
Deixo-lhe meu abraço,cheio de boas energias!
Mari

Solange Belém disse...

Oi, meu amigo, Jorge!

SORRIA!¦:--:¦:--:¦:
:¦:--:¦:--:¦:--. Sua página¦:--:¦:--:¦:
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. * >,´< * Hoje é
.*._/\_ .*. * . .. *um dia qualquer * . * .
. * . * . ._/\_.
* . * . . * >,´< . Mas, um Oi!
(¨`´¨)×. mesmo que virtual,
..¸(¨´¨) × já faz a diferença.
.... .. `•.¸.•.´Por isto estou aqui,´(¨`•.•´¨)
... ..`•.¸.•´para deixar minha marquinha
¸.•)´ (.•´em seu coração.
(¸.o` ¸.o´¸.o*´¨ ¸.o*¨ ¸.o´ ¸.o`¸.)

À você, um beijo e um abraço com muita amizade.

Sol

Caio Martins disse...

Grande Jorge! Vertiginoso, e eis o final feliz: coisa de Mestre!
Abração, meu amigo.

Andanhos disse...

Adorei, Jorge!
Beijos.

Teresinha Oliveira disse...

Final divertido em uma ótima crônica. Li esses dias que um Botero foi vendido a 2 milhões de dólares num leilão por aí. Botero deve ser "facinho" de pintar. Sugestão para suas próximas obras...Aquele maluco americano que saía espalhando e pingando tintas, o Pollock, também deve ser facilmente imitável :)

Teresinha Oliveira disse...

Oi, Jorge. Sua informação levou-me a visitar o tio Google, e agora estou a par dessa monumental disputa. Um homem contra um software capaz de processar 200 MILHÕES de posições por SEGUNDO.
Grata por me levar até lá em busca de informações.Gosto de pessoas como você, que induzem o outro a buscar conhecimento, por menor que seja. Beijos