terça-feira, 30 de outubro de 2012

Solidão


      
            Caminhava na longa calçada que acompanhava a areia e o mar.
            Dia claro, luminoso, céu transparente e o vento refrescante, vindo do oceano, tornava o passeio bem agradável.
            Muitos anos tinham se passado; estava velho e a idade traz um sentimento de solidão.  Já não sentia o vigor de tempos passados, nem seria normal que isto acontecesse.  Mas os passos eram firmes, a marcha desembaraçada e o olhar ainda atento para o que de belo existia naquele lugar.  A praia, as crianças brincando junto ao mar, baldes de areia sendo transportados para a construção de castelos e fortes, onde a pirralhada empregava toda sua arte.  Algumas mães, ainda bem jovens, chamavam a atenção pela beleza física, como negar?
            Calmo ele prosseguia seu exercício matinal, pensava na vida presente, que mesmo sem o entusiasmo da juventude, tinha o seu gosto saboroso.  Acordar, sentir-se vivo, tomar um café perfumado de prazer, respirar o ar ainda fresco e puro da manhã resplandecente.  Os pensamentos eram rápidos, não sabia se quando estivesse outra vez em casa iria ler, ouvir uma música agradável, talvez imponente, talvez relaxante.  Um banho gostoso, roupa fresca e limpa e os pensamentos fluindo sobre a existência.  Chegara à conclusão de que era bem melhor crer.  Acreditar em tudo desta curta longa Vida, seja fato bom, seja coisa desagradável.  Ambos caminham juntos, não há como evitar.
            Não refletir em cima da solidão é um erro.  Pode até mesmo ser desastroso.  O contrário, pensar sobre o que está nos cercando, é algo luminoso.  “Pronto”, pensou.  “Já sei o que vou fazer hoje.  Vou escrever sobre isto.”  Foi o que fez, despretensiosamente.  

14 comentários:

Caio Martins disse...

Grande Jorge, belíssimo texto! Gostei, e muito! Forte abraço!

Rita Lavoyer disse...

Mas uma solidão cheia de qualidades como esta que nos apresenta é saudável demais! Tivéssemos todos o dom de qualificar a solidão quantificando-a cada vez menos poderíamos fazer dela companheira, algumas vezes, saudável! è preciso sabedoria para aproveitá-la desta forma como nos expõe. Solidão experimentada e ponderada, às vezes, surte excelente resultado. Você sabe, Jorge!

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Gostei do belo exercício de metalinguagem. Mais uma dentro, Jorge. Parabéns.

Marco Bastos disse...

Está aí, no Marcelo Squassábia - a metalinguagem que eu pensava enquanto lia o seu belo texto. Eu distingo dois sentimentos: solidão e "sozinhez". Solidão não sei o que é, mas sozinhez eu acho necessária. abraços. Parabéns.

Unknown disse...

A solidão tem isto de bom: faz-nos pensar sobre a vida, o mundo sobre nós.... E isso é muito bom. Sem a solidão não haveria criação. E convenhamos, Jorge, "café perfumado de prazer" desperta aquela vontade tomar um café. Abrs. Mardilê

Márcia Sanchez Luz disse...

Jorge, que texto bonito! Ele é pura poesia!

Beijos

Márcia

Célia disse...

Certa vez, em um simpósio de RH, me fizeram a pergunta: - se você tivesse que morar com você mesmo, como se sentiria? Surpreendi-me. Hoje, respondo com total segurança que, administro muito bem. Sou boa inquilina de mim... Exercito ações que, antes povoada, era impossível. Vejo um crescimento qualitativo imenso. Abri portas e janelas que, sempre fechadas, não me deixavam visualizar-me interiormente. Amo essa minha companheira saudável que não me deixa só um instante sequer, pois sei que o meu lugar, sou eu!
Abraço, Célia.

Blogat disse...

Para nosso gáudio e prazer! :)

marcia disse...

Jorge, que momento lindo!..Como diz o Marco:"sozinhez" faz muito bem...bjus

Ana Bailune disse...

E escreveu muito bem, por sinal. Adoro a solidão. Ela me traz para mais perto de mim, o que faz com que eu possa aproximar-me melhor dos outros.

iderval.blogspot.com disse...

Professor Jorge como é bela a juventude que existe dentro de cada um de nós, a matéria se transforma e desaparece paulatinamente,os pensamentos se multiplicam,os pensamentos fluem purificados e amadurecem os homens cientes dos janeiros atravessados e vividos. Viva o mar,viva o ar,viva a terra e viva a vida. O cérebro jamais envelhecerá, o cérebro é fonte eterna da juventude, a sabedoria e pertinentes n aos que vivem mais. Hoje tenho ciência disto e entendo porque os meus pais são dois grande sábios.IDERVAL TENÓRIO

Unknown disse...


Olá Jorge, cada ser tem os seus sentires e pensares – isso é maravilhoso.
Esta palavra temida por tantos.. Para mim é bem-vinda e, a afirmativa é verdadeira. Isso, por ter-me o Criador me preparado para tal. Permita-me a Ele referir-me sem constrangimentos. Preenchi a minha vida com valores inestimáveis – Jamais estarei só. A solidão para mim é lucro, é uma boa amiga – faz-me crescer e ser de fato melhor. Falo de mim, sem confrontos com os sentires e pensares alheios – respeito-os e os entendo bem.

Parabéns por seu bem elaborado texto, continuo admirando o simples.


Até breve,
Sempre, EstherRogessi

cinira disse...

sempre belos e impecáveis,parabéns!

Anderson Fabiano disse...

Jorjão,

A solidão é caminho predileto do diálogo do eu e o mim. É um travesseiro cúmplice pronto para nos mostrar o que não queremos ou deixamos de ver.

Não gosto da solidão compulsória, mas, amo aquela consciente, proposital, escolhida.

Meu carinho,
Anderson Fabiano